Brazílica Pereira
neste país de fogo & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz lingua não falha
cospe grosso na panela
da Imperial tropicanalha
não me metam nestes planos
verdes/amarelos
meu dentes vãos/armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos
Pessoas que me comovem são aquelas que vivem ou viveram com os seus fios
elétricos ligados cuspindo seus relâmpagos suas trovoadas sobre as nossas
tempestades. Sou fanático sim por blues samba reggae rock and roll . Faço as
minhas escolhas independente do meu coração partido e sigo vivo com os Dentes
cravados na memória para jamais esquecê-las. Esta foto é para rasgar o
peito e deixar sangrar poesia.
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
BraziLírica
para Uilcon Pereira in memória
salve salve a metáfora anárquica
res-publicana brazilirica
assombradado seja o poder da ficção
meu coração é vermelho
nunca foi verde/amarelo
minha faca tem dois gumes
não tem neves
não tem cunha
não tem mello
no circo tem marmellada
às 8 horas da noite
com a massa tele guiada
jura secreta 41
mastigo o coração do vampiro
dentro da noite relâmpago
não tenho sangue de cristo
nem sei a bela onde a/mora
se eu te comer é metáfora
se te devorar é agora
juras secreta 54
ponho meus dedos cínicos no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa vir a ser surpresa
porque amor não te essa de cumer na mesa
é caçador e caça mastigando na floresta
toda tesão que resta desta pátria indefesa
meto meus dedos cínicos sobre tuas costas
vou lambendo bostas destas botas neo-burguesas
porque meu amor não tem essa de vir a ser surpresa
é língua suja e grossa visceral ilesa
pra lamber tudo que possa vomitar na mesa
e me livrar da míngua desta língua portuguesa
Artur Gomes
Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
poesia
eu te penetro
em nome do pai
do filho
do espírito santo
amém
não te prometo
em nome de ninguém
Artur Gomes
in Suor & Cio – 1985
eu
poderia abrir teu corpo
com os meus dentes
rasgar panos e sedas
da tua cama
arrancar os cobertores
desatar todos os nós
com as unhas
arranhar os teus pudores
rasgando as rendas
dos lençóis
perpetuar a ferro e fogo
minhas marcas no teu útero
meus desejos imorais
mal/dizendo
a hora soberana
com a força sobre/humana
dos mortais
quando vens me oferecer
migalha e fruto
como quem dá de comer
aos animais
Artur Gomes
Couro Cru & Carne Viva – 1987
espinha de peixe com farinha
naquela tarde em Teresina quando perdemos Tom
Jobim, cantamos a Garota de Ipanema e o poema atravessou o cemitério com todo
mistério que a tarde então continha. Marciely ainda não era a minha. o mar mora
pra lá muito pra lá da cajuína. bebemos o gosto do caju sal/preso na língua e a
saliva era só sal não tinha peixe no poema alguma espinha e a farinha que Luisa
misturou na tapioca.
espírito santo
Guarapari aqui estou
aqui me encontro
em estado de espírito santo
nesse mar azul e branco
como a s cores da Portela
o rio já passou em minha vida
nas marés de um serafim
mar é o que fica
como o deus que me habita
sem princípio meio ou fim
Poética 80
pelas juras do sagrado
nos secretos sacramentos
juro que o meu amor o-culto
se esconde no silêncio
o seu eterno juramento
não me fala das pedras
do vale da fala
desconfio que o meu amor o-culto
esconde a sua verdade
com medo da dor que sangra
na ferida da saudade
para não enlouquecer
Artur Gomes Gumes
Entrevista com a Psicoterapeuta Isadora Chiminazzo Predebon – continuação
Artur - O Que é
Psicofobia?
E até onde ela pode nos levar?
Isadora - A
Psicofobia se trata de um preconceito em relação às pessoas que têm transtornos
mentais ou deficiências mentais dos mais diversos tipos. Antigamente,
relacionava-se com pessoas "endemoniadas", "demônio no
corpo", "bruxaria" e entre outras questões. Com o surgimento da
psiquiatria e da psicologia e seus estudos e contribuições para a compreensão e
tratamento das mesmas, acabou diminuindo um pouco a psicofobia por parte da
população.
Mas ainda, no senso comum, pouco se sabe sobre o
movimento da Reforma Psiquiatrica, por exemplo, que trouxe com ela novos modos
de tratar transtornos mentais (principalmente, os mais graves) e um
questionamento ao modelo antigo de "tratamento", quando relacionado
aos manicômios ou hospitais psiquiátricos.
A psicofobia pode tanto levar para uma pessoa não
buscar tratamento por medo de ser "taxada de louca", como também,
inferiorizar pessoas que têm transtornos mentais e que precisam de um
tratamento adequado (psiquiátrico + psicoterapia; psicoterapia; tratamento
sistematizado, etc). De qualquer forma, a psicofobia atrapalha a busca por
tratamento, como também acaba, por falta de informação, negligenciando e
inferiorizando ao tratar como "frescura".
A Associação Brasileira de Psiquiatria tem um forte campanha de iniciativa para combater o preconceito à Psicofobia.
Em resumo, a Psicofobia além de dificultar a busca
por tratamento, também pode contribuir para taxas de suicídio e intensificação
de alguns sintomas.
BraZilianas 2019
não sei se piso terra firme
ou me afogo em pantanais
nem sei se lanço meu barco na tormenta
ou se me atiro contra o cais
no Mar de Lama inverteu-se a hierarquia
trepar na goiabeira é muito pouco
culpa do tao do Satanás
e no brasil jesus cristo é muito louco
e um capitão manda agora em generais
Artur Gomes
Poética 92
Era
uma vez e não Hera
deus Prometeu me dissera
Cronos a transformará em Fedra
se não descrever sobre a pedra
as escrituras secretas
que tu trazes da carne
de lá da ilha de Creta
Federika Lispector
Psicótica – 67
não frequento academias
físicas – e muito menos literárias
minha palavra avária
está à beira do precipício
nem sei porque não continuei
internado no hospício
onde choques elétricos aconteciam as tantas
no manicômio Henrique Roxo
na cidade de Campos dos Goytacazes
onde a medicina psiquiátrica
era exercida por capatazes de médicos açougueiros
e um Capixaba de nome Vespasiano
não resistiu ao surto
explodiu a cabeça contra a parede
e nenhum jornal da cidade
noticiou o suicídio
que eu trago na lembrança
com os dentes cravados na memória
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
www.fulinaimagens.blogspot.com
Com Os Dentes Cravados Na Memória
Relatório
I
na sala ficaram cacos de pratos
espalhados pelo chão. pedaços do corpo retidos
entre o corredor, após o interrogatório.
um cheiro forte de pólvora e mijo
misturados a dois ou três dias sem banho
depois de feito sexo.
só o fogo da verdade exalando odor e raiva
quando em verde, conspiravam contra nós.
em são cristóvão o gasômetro vomitava
um gás venoso nos pulmões já cancerados
nos quartéis da cavalaria.
II
me lembro.
o sentimento era náuseas, nojo, asco,
quando as botas do carrasco
bateram nos meus ombros com os cascos.
jamais me esquecerei o nome do bandido
escondido atrás dos tanques
e
se chamavam:
Dragões da Independência
e a gente ali na inocência.
comendo estrumes. engolindo em seco
as feridas provocadas por esporas.
aguentando o coice, o cuspe,
e
a própria ira
dos animais de fardas
batendo patas sobre nós.
III
com a carne em postas sobre a mesa,
o couro cru, o coração em desespero,
o sangue fluindo pelos poros, pelos pelos.
eu faço aqui
meditações sobre o presente
re cri ando
meu futuro.
tendo o corpo em cada porta
e a cara em cada furo.
tentando só/erguer
as condições pra ser humano
visto que tornou-se urbano
e re-par-tiu
se
em mil pedaços
visto que do sobre-humano
restou cabeça, pés, e braços.
Artur Gomes
Couro Cru & Carne Viva - 1987
ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz
onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus
oh! my Brazyl
ainda em alto mar
Cabral quando te viu
foi logo gritando:
terra à vista!
e de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista.
por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria
-
"Artur
Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras apenas
nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na própria
voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos ritmados e
musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta."
do prefácio de Ademir Assunção
Pátria A(r)mada
www.fulinaimicamente.blogspot.com
carnívora
o amor é feito de corpos
o amor é feito de membros
o amor é feito de meses
janeiro fevereiro março
todos os dias acordo e me lembro
o amor é feito de abril
maio junho julho
o amor é feito de agosto
setembro outubro novembro
o amor é feito dezembro
o amor é feito de anos
o amor é feito de agora
horas minutos segundos
é razão de estar no mundo
o amor se faz toda hora
vertigem 8
em minha língua de pétalas
desejos não saciados
por águas de cachoeiras
por trilhas inalcançáveis
na pele dourada de sol
de pedra dourada ficaram minas
cravadas na flor da memória
no corpo cicatriz - tatuagem
nos olhos quanta vertigem
não sei por quantas viagens
ainda terei estas minas
em cada sulco dos dedos
em cada pedra nas mãos
os caranguejos explodem no meu crânio
mariposas pousam mas não cantam
borboletas voam mas não cantam
os papagaios estão mudos
desde o grito de Cabral: o Terra à Vista!
a amazônia é exterminada por moto-serras ruralistas.
mas juro que não sou correto
juro que não sou decente
poesia é faca entre os ossos
navalha entre os dentes
desde todo tempo as milícias des(matam) nas favelas
e todo Dia é Dia D Todo Dia É Dia Dela
vivo num brasil subvertido
na cadeia está preso um presidente
e os palácios são os covis desses bandidos.
há muito tempo não recebo cartas de ninguém
mas não rezo padre nossos
simplesmente para dizer amém
já fui católico rezei terços ladainhas
acompanhei a procissão dos afogados
na Tapera para soletrar a palavra Cacomanga
e entender que o barro da cerâmica
trago grudado na minha íris retina
meu batismo de fogo foi numa Santa Cecília
entre víboras e serpentes
mordi a hóstia do padre
sua saia preta me levou ao pânico
de sonhar com juízes e hoje saber o que são
minha África são os olhos negros
de Madame Satã
na língua tenho uma sede felina
na carne essa fome pagã
sou um homem comum
filho de Ogum com Iansã
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
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